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Foto do escritorFernanda Calé

23 de Abril: Conheça duas histórias de fé no santo guerreiro.



Desde ir a pé de Rio das Pedras a Quintino, a nascer duas vezes, nada é impossível para quem acredita em São Jorge.

 

Cultuado por católicos, anglicanos, umbandistas, candomblecistas e ortodoxos, São Jorge segue trazendo consigo seguidores e devotos, que consideram hoje (23/03) um dos dias mais importantes do ano.


A história do Santo que nasceu na Capadócia, mudou-se para a Palestina, foi capitão do exército romano, guarda pessoal do imperador Diocleciano, salvou a donzela do dragão, doou toda a sua herança aos pobres, e mesmo sob tortura, não negou suas crenças e seguiu fiel a fé Cristã até morrer degolado no dia 23 de Abril de 303, é amplamente conhecida em diversos países.


Padroeiro da Inglaterra, Geórgia, Lituânia, Portugal, algumas regiões da Espanha, dentre outros países e regiões que cultuam o santo. É padroeiro também do estado do Rio de Janeiro (ao lado de São Sebastião), e no dia de hoje é celebrado com missas, feijoadas e foguetórios, que nesse ano devem ser totalmente adaptadas e devem seguir as regras de segurança para conter o contágio do Coronavírus.


Mas são nos momentos de tantas adversidades, como é o momento que vivemos, e em situações tão complexas, é que vemos a fé se apresentar. Para muitos devotos, não importa a forma que a comemoração vai ter, o que importa é manter a fé que nas piores batalhas São Jorge estará presente.


No Rio das Pedras e no bairro do Anil não é diferente, a Agência Lume conversou com dois devotos que dão ao santo a autoria de enormes vitórias em suas vidas. De campeonato vencido por escola de samba, a devolver a vida e nascer de novo, Théo e Arinos dizem que o santo nunca abandona.


Théo Correia: De Rio das Pedras a Quintino.

Théo veste a medalhinha de São Jorge que costuma levar consigo como proteção. / Foto: Agência Lume

O morador de rio das Pedras Théo Correia não duvida da força de São Jorge, tanto que costuma entregar ao santo a missão de protegê-lo e ajudá-lo nos momentos mais difíceis. Mesmo que seja preciso andar cerca de 15 quilómetros para agradecer.


Nascido em família católica Théo conheceu a história de São Jorge na catequese. Na aula que caiu justamente no dia do santo, 23 de Abril, a catequista contou um pouco da história de São Jorge. Impressionado Théo chegou em casa e pediu mais explicações a sua mãe, desde então ele conta que criou um grande carinho pelo santo.


Théo cresceu e começou a trilhar seus caminhos, sempre carregando consigo São Jorge. Começou a tocar na bateria de algumas escolas de samba, e conta que sempre que chegava aos barracões encontrava uma imagem de São Jorge. Com o tempo tornou-se uma tradição para o jovem ir acompanhado de sua mãe as missas na Igreja de Quintino no dia 23 de Abril para celebrar a data:

"Lembro que um dia eu passei a virada do dia 22 para o dia 23 na casa de um amigo no bairro do Valqueire, e lá quando dava meia noite tinha uma queima de fogos como se fosse ano novo. Eu achei aquilo muito maneiro!"

Em 2017, o devoto enfrentava um ano atribulado, principalmente pela distância entre Rio das Pedras e Madureira, onde fica a quadra da Portela, sua escola do coração. Voltar dos ensaios na madrugada era perigoso, após quase ser assaltado Théo pediu ajuda e proteção a São Jorge.


No mesmo ano ao entrar na avenida para desfilar, Théo conta que sentiu um clima mais tenso, devido aos acidentes ocorridos na Sapucaí na primeira noite de desfiles daquele ano de 2017. Théo acabou errando a primeira 'paradinha' que iria fazer com o repique, e naquele momento pediu que o santo ajudasse a sua escola do coração:

"Nesse momento passou um monte de coisa na cabeça, eu pensei 'não era para eu estar aqui', e comecei a rezar, comecei a fazer promessa e disse, 'se tudo der certo eu vou do Rio das Pedras pra Quintino a pé'".

O portelense disse que na hora não pensou no tamanho da promessa, mas que depois de pedir, tudo começou a dar certo. Naquele ano a Portela, a escola de Théo, foi a campeã do carnaval. Entretanto, meses depois a descoberta de um erro na avaliação de um jurado que tirou 1 décimo da Mocidade Independente de Padre Miguel, que deveria ter terminado o carnaval empatada com a Portela, fez com que a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) declarasse empate, e o carnaval de 2017 teve duas campeãs.


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Entretanto a Tabajara do Samba, a bateria da portela, ganhou nota 10 de todos os jurados, dando um sabor a mais a vitória de Théo, que conseguiu o campeonato naquele ano também pelo Império Serrano, escola que desfilou no grupo de acesso e subiu para o grupo especial em 2018.

Théo mostra as imagens de São Jorge que pertencem a sua família. / Foto: Agência Lume.

Depois das vitórias restou ao devoto pagar a promessa feita. No dia 23 de Abril de 2017, Théo saiu de Rio das Pedras por volta de 1h30 da manhã e seguiu andando para Quintino. Ele conta que teve medo do que poderia acontecer num caminho tão longo, e temeu também não conseguir completar o percurso:

"Fui andando sozinho para lá com muito medo. Todo lugar que eu passava estava escuro, quando eu via alguma coisa eu já ficava com medo...Eu não fazia ideia de que horas ia chegar lá."

Théo chegou a tempo de ver os fogos da alvorada e assistir a missa, ele conta ainda que ficou muito feliz por conseguir pagar a promessa. Depois de tudo, o devoto ainda foi para o trabalho, mas seguiu satisfeito por agradecer o pedido atendido.


Arinos Rodrigues dos Santos: Duas datas de Nascimento.

Arinos faz reverência a imagem de São Jorge presente na fachada da casa de um de seus vizinhos./Foto:Agência Lume.

Se muitos devem promessas a São Jorge, Arinos diz que deve ao santo a sua vida. Morador do bairro do Anil, Arinos Rodrigues é um grande devoto do santo guerreiro, e garante que deve ao santo diversas graças alcançadas, para ele o dia 23 de Abril é um dia de vitórias.


Atualmente aposentado, Arinos conta que sempre falavam sobre sobre São Jorge para ele, criado na doutrina católica atualmente o devoto se considera espírita, e disse que sempre teve um carinho muito grande por São Jorge, mas que achava que tudo era parte de um 'folclore'.


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Arinos trabalhava na parte de vigilância de um supermercado no Pechincha, era responsável por monitorar a chegada de mercadorias no horário noturno. Ele conta que nunca teve problemas de saúde, mas que num dia ao ir para o trabalho começou a se sentir mal.


Era dia 23 de abril de 2014 e Arinos havia chegado para trabalhar se sentindo cansado e com tonturas, depois de quase desmaiar no ônibus e perder o ponto onde deveria descer, ele contou aos colegas de trabalho que não estava muito bem, mas que iria assumir seu posto.


Arinos acabou sendo convencido por seus colegas e esperar um tempo na sala de descanso para ver se os sintomas melhoravam, ele relutou, mas conta que aceitou. Ao se deslocar para a sala de descanso, o aposentado acabou desmaiando no meio do mercado, caindo de bruços no chão, e nesse momento teve um parada cardiorrespiratória e um AVC isquêmico.


Arinos foi levado para o hospital, onde os médicos fizeram exercícios de reanimação, o devoto lembra que chegou a 'voltar' por muito pouco tempo, e apagou novamente. A equipe o levou para o CTI onde recebeu três tentativas de ressuscitação por desfibrilador, quando finalmente respondeu aos estímulos.

"Eu voltei como se eu tivesse vindo de outra dimensão, um lugar claro, muito bonito, mas eu voltei."

Depois de se recuperar e receber alta sem nenhuma sequela grave, Arinos precisou se aposentar, ele conta que precisa tomar 14 remédios por dia para conviver com as poucas sequelas, que mesmo não sendo graves, lhe impediriam de trabalhar normalmente.


Conseguir a aposentadoria por invalidez também não foi um tarefa simples, Arinos chegou a ficar 10 meses sem uma resposta lutando contra a burocracia, e mais uma vez contou com a ajuda de São Jorge:

"Eu fiquei 10 meses sem receber, mas quando a aposentadoria saiu, foi no dia 23 de abril. Eu só pude receber o dinheiro no dia 24, mas a data da minha aposentadoria foi dia 23 de abril!"

Desde então Arinos virou um grande devoto de São Jorge, e aguarda todo o ano o dia 23 de Abril com muita alegria. Para ele dia 23 é um dia de felicidades e conquistas:

"Tudo que acontece na minha vida de melhor, tem tudo a ver com o dia 23, ele sempre coloca o dia 23 de abril para relembrar."

Arinos se acostumou a falar que nasceu em duas datas, no dia do seu nascimento 17 de março de 1962, e no dia 23 de abril de 2014, data em que sofreu a parada cardiorrespiratória e o AVC isquêmico.

 


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