top of page

A realidade de quem usa ônibus Municipais em Rio das Pedras, Anil e Freguesia

  • Foto do escritor: Fernanda Calé
    Fernanda Calé
  • há 3 dias
  • 7 min de leitura
Na imagem podemos ver algumas pessoas esperando o ônibus em um ponto na comunidade de Rio das Pedras. O ônibus que se aproxima do ponto pertecen a linha 550 e não possuí ar condicionado.
Foto: Douglas Teixeira / Agência Lume

Com mais de mil multas aplicadas no último ano e 13% da frota sem climatização, moradores de Jacarepaguá enfrentam calor, atrasos e superlotação diariamente.

 

Os bairros de Rio das Pedras, Anil e Freguesia, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, enfrentam graves problemas de transporte público. A promessa de uma frota 100% climatizada feita pela Prefeitura em 2018 ainda está longe de ser cumprida. Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) revelam que 133 ônibus que operam na região circulam sem ar-condicionado, o equivalente a 13% da frota. Além disso, os passageiros convivem com atrasos frequentes, superlotação e veículos em más condições.

 
 

De acordo com a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), o Consórcio Transcarioca opera 1.021 ônibus nos bairros de Rio das Pedras, Anil e Freguesia. Destes, apenas 86,97% possuem ar-condicionado. A linha 390 (Curicica - Candelária) é a campeã de reclamações por falta de climatização, com 329 registros no último ano. Outras linhas problemáticas incluem:


  • 565 (Tanque - Gávea): 238 reclamações.

  • 600 (Taquara - Saens Peña): 229 reclamações.

  • 692 (Méier - Alvorada): 210 reclamações.

  • 368 (Riocentro - Candelária): 196 reclamações.


O calor extremo dentro dos veículos é uma constante durante o verão carioca. Apesar da criação do programa "Agentes do Verão", que monitora a climatização da frota, muitos moradores reclamam que os ônibus circulam com o ar-condicionado quebrado ou desligado.


"Existem ônibus construídos com vidraças no lugar de janelas que trafegam sem ar. Isso deveria ser considerado crime pois nenhum ser humano resiste preso dentro de um carro ou ônibus com os vidros fechados e lacrados exposto ao sol com temperaturas em torno de 40ºC." - Adilson Rodegheri Peçanha, morador da Freguesia e usuário da linha 565.


Superlotação e atrasos

Além da climatização insuficiente, os passageiros enfrentam superlotação e longos períodos de espera. A linha 692 (Méier - Alvorada) lidera as reclamações por superlotação, com 46 registros nos últimos 12 meses, seguida pela linha 565, com 29 reclamações. Veja as cinco linhas com mais reclamações por superlotação:


  • 692 (Méier - Alvorada): 46 reclamações.

  • 565 (Tanque - Gávea): 29 reclamações.

  • 390 (Curicica - Candelária): 28 reclamações.

  • 766 (Madureira - Freguesia): 28 reclamações.

  • 611 (Camorim - Del Castilho): 21 reclamações.

  • 555 (Rio das Pedras - Gávea): 19 reclamações.


Nos horários de pico, o tempo médio de espera nas paradas é de aproximadamente 12 minutos, mas atrasos significativos são frequentes. A linha 692, novamente, se destaca negativamente: foram registradas 44 queixas por atrasos, com relatos de espera superior a uma hora. Outras linhas com altos índices de atraso incluem:


  • 348 (Riocentro - Candelária): 43 reclamações, tempo médio 1 hora.

  • 766 (Madureira - Freguesia): 33 reclamações, tempo médio 40 minutos.

  • 601 (Saens Peña - Santa Maria): 27 reclamações, tempo médio 1 hora.

  • 611 (Camorim - Del Castilho): 25 reclamações, tempo médio 1 hora.


Lélio Araújo é morador da Freguesia e reclama da superlotação nos horários de pico. Segundo o Lélio, do início da manhã até às 9h e das 17h às 19h, é muito difícil embarcar nos ônibus que seguem o itinerário pela serra Grajaú-Jacarepaguá.


"A maioria das linhas que atendem a Freguesia sai de bairros periféricos como Taquara, Cidade de Deus, Barra da Tijuca e Tanque, atendendo aos moradores dessas regiões e ao passar na Freguesia já estão bastante cheios, muitas vezes impossibilitando o ingresso em condições adequadas." 

 
 
Multas e fiscalizações

Entre março de 2024 e março de 2025, o Consórcio Transcarioca foi autuado mais de mil vezes pela SMTR. As principais infrações foram:


  • Inoperância do ar-condicionado: 308 multas.

  • Outras irregularidades operacionais e de manutenção: 764 multas.


Quem depende do transporte reclama do número de fiscalizações realizadas na região. Gabriel Nunes é entrevistador do IBGE e por conta do seu trabalho circula utilizando transporte público por toda a região de Jacarepaguá, ele diz que apesar das penalidades aplicadas, como corte no subsídio de empresas que sejam autuadas em fiscalizações, os problemas persistem.


"Se não tem fiscalização, não tem como eles verem que as frotas estão em desacordo com a climatização. Se não tem fiscalização, não tem prova, então não tem punição contra as empresas. Então eu acho que realmente não está surtido nenhum efeito essa medida" - conclui.

 
 

Linhas mais problemáticas

Com base nos dados fornecidos pela Prefeitura via LAI, as linhas mais criticadas são:


  • 390 (Curicica - Candelária): Maior número total de reclamações (499) e líder em problemas relacionados à climatização.

  • 565 (Tanque - Gávea): Maior número médio diário de passageiros (8,3 milhões em 2024) e destaque negativo em superlotação.

  • 692 (Méier - Alvorada): Linha com maior número de reclamações por atrasos e superlotação.


Impacto na saúde

O calor extremo dentro dos ônibus sem climatização ou com janelas lacradas pode trazer sérias consequências para a saúde dos passageiros. Segundo o médico de família e comunidade Sidney Teixeira, o ambiente fechado e sem circulação de ar transforma os veículos em verdadeiras "estufas", agravando ainda mais o calor externo.


"O tempo quente por si só já desencadeia adaptações que os nossos corpos têm de fazer, mas a nossa capacidade enquanto organismo não é infinita, e o calor pode justamente ultrapassar e provocar dano. Pensando-se em uma estrutura fechada e com vidro, e como muitos reclamam muitas vezes sem circulação de ar (ônibus com janelas lacradas), tal como uma estufa, a temperatura interna tende a aumentar, exacerbando qualquer calor externo. Mais intenso do que no contexto de janelas abertas e pior ainda do que com a refrigeração artificial."


Sidney explica que os efeitos do calor podem variar de desconfortos leves, como dor de cabeça, fadiga, enjoos e cãibras, até problemas graves como hipertermia, desidratação severa, danos renais, infarto agudo do miocárdio e até morte. Ele também alerta que grupos vulneráveis — como crianças, idosos, gestantes e pessoas com doenças crônicas — estão mais suscetíveis a esses riscos.


Além disso, o especialista destaca outro problema relacionado à falta de ventilação nos ônibus lacrados: o aumento do risco de transmissão de doenças infecciosas.


"A restrição da circulação do ar nesses ônibus lacrados e com sistema de climatização não funcionante pode multiplicar o risco de transmissão de doenças infecciosas em situações de aglomeração, especialmente durante períodos mais frios. A abertura eventual das portas não é suficiente para provocar uma troca de ar adequada."


A importância do registro de reclamações

Muitos usuários de linhas de ônibus que circulam na região estão se mobilizando para cobrar medidas mais efetivas. A Associação de Moradores e Amigos da Freguesia (AMAF) informou à Agência Lume que, no dia 28 de janeiro de 2025, protocolou um ofício junto à Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), solicitando maior rigor nas fiscalizações da frota de ônibus que circula pelo bairro. O documento, registrado sob o número MTR-CAP-2025/00524, destaca a persistência de problemas como a ausência de climatização em veículos e a má conservação da frota, mesmo após autuações aplicadas nos últimos anos.


No ofício, a AMAF anexou uma lista com 33 protocolos registrados no sistema 1746 apenas em janeiro de 2025, evidenciando reclamações recorrentes feitas por moradores sobre diversas linhas que atendem a região. Entre os principais pontos levantados pela associação estão a necessidade de intervenções mais eficientes para garantir o cumprimento das normas de qualidade e estimular o uso do transporte coletivo.


"A Associação de Moradores e Amigos da Freguesia (AMAF) promove há anos uma campanha de denúncia de ônibus sem ar-condicionado a partir da plataforma municipal do 1746, considerando a própria campanha e a promessa da Prefeitura. No entanto, os passageiros perceberam mudanças pequenas nesses últimos anos, notando até piora das condições em algumas linhas. Sem a resolução do calor nos ônibus, no início de 2024, comunicamos a Secretaria Municipal de Transportes, o que gerou fiscalizações a várias linhas de ônibus mas não culminou em melhora contínua da frota. Cientes desse compromisso público do prefeito em climatização total da frota de ônibus, voltamos a reclamar com a Secretaria, pedindo ação mais eficaz inclusive. Ainda aguardamos uma resposta oficial ao nosso comunicado, mas a partir da Lei de Acesso à Informação já pudemos verificar que mais de 200 autuações a diferentes linhas de ônibus foram feitas. Esperamos apenas que agora resolva." - Concluiu a associação.


Qualquer cidadão pode registrar reclamações e colaborar para a fiscalização. As reclamações são muito importantes, e a longo prazo podem ajudar na melhoria do serviço de transporte oferecido na nossa região. Os moradores podem registrar suas reclamações pelos seguintes canais:


Telefone: Ligue para o número 1746. Basta clicar nas teclas 1746 ou, se preferir (21) 3460-1746, que são tarifadas ao custo de uma ligação de telefone fixo;

Internet: Acesse https://www.1746.rio para realizar um registro, basta clicar no serviço relacionado e escolher o tipo e subtipo do tema que pretende acionar. Ou baixe o aplicativo do 1746 na loja de Apps do seu celular.

Presencialmente: Neste caso, o cidadão deverá se direcionar à loja de serviço na Rua Afonso Cavalcanti, 455, térreo - Cidade Nova- Rio de Janeiro - RJ.


O que dizem os citados?

A Prefeitura afirmou que está trabalhando para melhorar a qualidade do serviço por meio da intensificação da fiscalização. O programa "Agentes do Verão" foi criado para monitorar as condições dos ônibus durante os meses mais quentes, e que tenta dar efetividade aos dispositivos legais e regulamentares que estabelecem o dever de climatização, a exemplo da Resolução SMTR no 3626/2023 e o Código Disciplinar (Decreto Rio no 36.343/2012, art.23, inciso II). Além disso, esse assunto de climatização fez parte das Metas Estratégicas para cumprimento dos órgãos, como exemplo: 4.a. Implantar o sistema de monitoramento da climatização dos ônibus do SPPO.


O Município conclui dizendo que está aprimorando as ações de fiscalização tendo em vista a adequada prestação do serviço, notadamente quanto à climatização.


O Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro, Rioônibus respondeu por meio de nota, segundo o Rioônibus, 95% da frota que circula na cidade está equipada com ar-condicionado. Veja a nota completa:


Nota Rio Ônibus

Todas as linhas municipais de ônibus atendem às determinações de planejamento da SMTR.


Na cidade do Rio, 95% da frota de ônibus está equipada com ar-condicionado, sendo este um dos maiores percentuais do país. É importante lembrar que a sequência ininterrupta de abertura das duas portas ao longo das viagens dificulta em muito o resfriamento interno, ao contrário do que ocorre em veículos de passeio.


Vale ressaltar ainda que, segundo a norma NBR 15570 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), os equipamentos de refrigeração dos ônibus urbanos devem assegurar que, quando a temperatura externa for superior a 30°C, a temperatura interna se mantenha pelo menos 8 graus abaixo. No verão carioca, temperaturas externas superiores a 40 graus acabam, infelizmente, por gerar desconforto nos passageiros.


Os consórcios trabalham em força-tarefa e mantém diálogo constante com a secretaria a fim de viabilizar outras melhorias.

Comments


Conteúdo Publicitário

bottom of page