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Foto do escritorIHBAJA

As nossas vias também têm histórias

Atualizado: 16 de set.

Na imagem podemos ver uma rua.

Por: Val Costa.

Professor de Geografia e membro do IHBAJA.

 

A memória é, por definição, uma luta contra o esquecimento. Dentro desse contexto, é importante entender a cidade como uma construção cultural coletiva, uma História comum inscrita no espaço urbano, uma memória social.

 
 

Enxergar nos traçados das ruas, dos prédios e das praças públicas lugares dotados de sentidos é fundamental para a definição de identidades locais, porém como há várias identidades em disputa, a memória encontra-se em disputa.


Este patrimônio revela o modo de ser de uma determinada sociedade. Os nomes das ruas da Baixada de Jacarepaguá ajudam a resgatar um pouco dessa memória coletiva construída ao longo do tempo. Abordaremos a seguir curiosidades sobre algumas das principais vias de acesso da região. 


A Estrada do Pau-ferro percorria o Engenho da Serra, pertencente a Joaquim Sequeira Tedim Filho, o famoso Coronel Tedim.  Ao longo do trajeto dessa via existia uma grande quantidade de uma árvore nativa da Mata Atlântica: a Caesalpinia Ferrea. O nome “pau-ferro” advém das faíscas e dos ruídos metálicos produzidos pelo machado em contato com o tronco dessa árvore.  


Em 1936, a avenida que liga o bairro do Tanque ao bairro da Freguesia recebeu no nome de Geremário Dantas, em homenagem ao escritor, jornalista, advogado e intendente municipal Antônio Geremário Teles Dantas (1889-1935). Sua residência ficava localizada na atual Rua Cândido Benício, onde hoje funciona o Instituto Geremário Dantas, outrora Externato Geremário Dantas, no bairro de Campinho.


A principal via de ligação da Zona Norte da cidade com a região de Jacarepaguá é a Rua Cândido Benício. Foi uma homenagem ao médico-sanitarista Cândido Benício da Silva Moreira (1864-1897). Por ser uma pessoa muito querida pela população de Jacarepaguá, ele também foi eleito para a Intendência Municipal.


Em 1885, Benício construiu uma casa onde hoje está a Localidade do Mato Alto. Na segunda metade do século XX, essa construção abrigou o Educandário Nossa Senhora da Vitória. Após a morte do fundador do colégio, o professor João Fernandes da Cruz, em 2000, o terreno começou a ser ocupado por um loteamento e o prédio foi gradativamente sendo destruído.


As pessoas que circulam entre a Taquara e o Tanque percorrem uma avenida que foi batizada em homenagem a um dos principais nomes da oposição ao governo Vargas em Jacarepaguá: Nélson de Almeida Cardoso (1893-1943). Cardoso, que era advogado e representava a região na Intendência Municipal, foi cassado durante a Revolução de 1930. Posteriormente, em 1934, disputou uma vaga para a Câmara dos Deputados pela Frente Única. Não conseguiu lograr êxito nesse pleito.


Para finalizar essa apresentação sobre os nomes das vias dos bairros, selecionei um caminho que não possui uma toponímia oficial, mas carrega uma grande representatividade para negros e negras que foram escravizados e trabalharam nos engenhos de açúcar da região: a Trilha Alto dos Pretos Forros.


A Serra dos Pretos-Forros é um divisor de águas entre a Baixada de Jacarepaguá e a região do Grande Méier. Os chamados forros eram indivíduos cativos que compravam ou ganhavam a liberdade, por meio da alforria. Acredita-se que essa trilha foi usada, durante o século XIX, por escravizados que formaram quilombos no meio da Mata Atlântica que cobria os Maciços da Cidade do Rio de Janeiro.


Em 2000, o Decreto Nº 19145 criou a Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra dos Pretos Forros. Essa Unidade de Conservação possui 2.645,7 hectares de extensão e engloba partes da XIII R.A. (Méier), da XV R.A. (Madureira) e da XVI R.A. (Jacarepaguá).

 




Val Costa é professor de Geografia e Membro do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá.


 


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