Por: Leonardo Soares dos Santos.
Professor e pesquisadora do IHBAJA.
Eram dois os principais tipos de organização política na década de 40: as cooperativas, bem mais antigas, que em sua maioria datavam da década de 30; e, principalmente, as Ligas Camponesas, surgidas a partir de 1946, que eram patrocinadas pelo PCB, mas que contavam com apoio de diversos partidos, até mesmo da UDN.
Dentre as primeiras podemos destacar a Cooperativa Agrícola de Bangu, a Cooperativa dos Agricultores de Campo Grande, a Cooperativa dos Policultores de Santa Cruz e a Cooperativa de Agricultores e Criadores de Jacarepaguá. Tais organismos foram criadas quase todas pelo Ministério da Agricultura na primeira metade da década de 30. O então Distrito Federal era até 1935 a terceira unidade da federação com maior número de cooperativas registradas. Sabemos que algumas delas estavam envolvidas nas discussões dos problemas dos pequenos lavradores. A Cooperativa de Agricultores de Jacarepaguá, por exemplo, organizava reuniões com lavradores da Fazenda Curicica para a discussão em torno da questão da propriedade daquelas terras. Entre as teses aprovadas no documento final da I Conferência dos Lavradores do Distrito Federal (1953), constava a “Tese n. 12”, de autoria de Álvaro Fernandes, da Cooperativa Agrícola de Bangu. Nela, defendia o “transporte direto das fontes de produção aos centros de consumo; venda direta ao consumidor; preferência nos mercados, mercadinhos e locais de venda, isenção de taxas e impostos”.
Outra forma de organização dos lavradores da região eram as Ligas Camponesas. Sua criação significava para o PCB a implementação de uma estratégia nacional de intervenção no campo. Segundo Irineu Luís de Moraes, ex-militante comunista, a primeira criada foi a Liga Camponesa de Dumont em fins de 1945. Para outros, a primeira teria sido a Liga Camponesa de Iputinga (Pernambuco). No DF, a primeira a ser constituída foi a Liga Camponesa do Sertão Carioca (LCDF) em meados de 1946.
De modo a facilitar a participação de lavradores de diferentes localidades nas discussões da LCDF, criaram-se Ligas subsidiárias em cada localidade: as Ligas Camponesas de Jacarepaguá e Vargem Grande surgiram dessa forma.
Com a decisão do STE em cassar o registro do PCB em maio de 47, as Ligas tiveram que ser fechadas. Mas a semente já tinha sido lançada para as futuras organizações de moradores da região.
Leonardo Soares dos Santos é graduado (2003) em História pela Universidade Federal Fluminense, onde realizou também o seu mestrado (2005) e doutorado (2009) em História Social. Suas pesquisas versam basicamente sobre as relações entre o espaço rural e urbano e suas implicações em termos de políticas públicas e configuração de grupos sociais. Atualmente trabalha como professor e pesquisador no Departamento de Fundamentos da Sociedade do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional do Polo Universitário da Universidade Fluminense, localizado em Campos dos Goytacazes. É membro-militante do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá desde 2010.
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