Maiara Oliveira foi uma das selecionadas pelo programa Jovens Negociadores Pelo Clima para participar do evento em Baku, no Azerbaijão.
Rio das Pedras esteve presente na 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29) em Baku, Azerbaijão, graças à participação de Maiara Oliveira. A moradora da região do Pinheiro é graduanda em Relações Internacionais pela UERJ, e foi uma das selecionadas pelo programa Jovens Negociadores Pelo Clima (JNC) para representar as comunidades periféricas neste importante fórum internacional.
O programa Jovens Negociadores Pelo Clima, que é desenvolvido pelo Observatório Internacional da Juventude (OIJ), conta com a parceria da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima do Rio de Janeiro, com a colaboração do PerifaLab e do Climate Hub Rio, e tem como objetivo capacitar jovens de comunidades periféricas para participarem de espaços internacionais de decisão sobre a crise climática.
Maiara explicou a importância dessa representação:
"Já que sendo nós, jovens periféricos, os mais atingidos por essa questão, nada mais justo que estejamos lá construindo políticas que vão nos impactar diretamente."
A moradora de Rio das Pedras resolveu se candidatar ao programa para participar de forma mais intensa da luta contra a crise climática. Segundo Maiara, o programa foi essencial para ajudá-la a desenvolver novas habilidades que permitissem sua inserção e participação em espaços de debates.
"Esses espaços não são pensados para que jovens periféricos os ocupem, logo eles possuem mecanismos para que você se sinta um invasor ali, como se a sua voz não valesse. Mas quanto mais conhecemos e entendemos sobre eles, mais temos propriedade para falar e permanecermos lá."
O território de Rio das Pedras, não é diferente do resto da cidade, também sofre com os impactos das mudanças climáticas. Para Maiara, é muito importante levar em consideração as vivências do nosso território ao cobrar soluções que têm impacto global.
"O programa me ajudou a entender que quando cobramos soluções sobre os problemas que vivemos aqui, não é de impacto apenas regional, mas sim global. Rio das Pedras é top 5 favelas com a maior população do Brasil, nós ocupamos um território gigante da cidade, não tem como ter alguma discussão sobre esse país sem levar o que é vivido aqui em consideração!"
Segundo a jovem, o território de Rio das Pedras é muito grande e por esse motivo precisa lidar com uma grande diversidade de problemas climáticos que afetam de forma distinta cada área da comunidade, como ondas de calor, enchentes, queimadas e deslizamentos. Por isso, é importante que estejamos atentos às negociações sobre financiamento climático e adaptação que acontecem na COP, pois as decisões são importantes para a realidade das favelas do RJ e do Brasil.
Maiara contou à Agência Lume que durante sua trajetória se inspirou em seus pais. O apoio dos familiares foi fundamental em sua caminhada, principalmente o de sua irmã, que é formada em Gestão Ambiental. Mesmo assim, a jovem contou que não imaginava que seria uma das selecionadas para ir à COP29, já que o programa ao qual faz parte tem um processo interno de seleção bastante rigoroso, mas que ficou feliz com a informação de que iria representar a juventude periférica no evento, e deixou um recado para os jovens de Rio das Pedras:
"Não se subestimem! Façam diferente do que eu fiz! Nós temos sim muito potencial para ocuparmos e nos fazermos escutar em espaços que de jeito nenhum são pensados para a gente! Se envolvam, estudem, ocupem e corram atrás de todas as oportunidades que aparecerem, construam caminhos para que mais e mais pessoas parecidas com a gente estejam em conferências internacionais fora e dentro do nosso país!"
Por fim, pedimos que Maiara fizesse uma avaliação sobre os resultados da conferência. Segundo a jovem, as decisões não supriram a expectativa esperada e é preciso esperança para transformar a frustração em combustível para lutar: "Essa COP era denominada de “COP do financiamento” acredita-se que terminaríamos ela com um texto muito mais ambicioso sobre a responsabilidade que os países desenvolvidos têm com os subdesenvolvidos em financiar nossa luta contra a crise climática. Porém o que foi apresentado foi um texto fraco, no qual os países ricos têm obrigação de financiar apenas US$ 250 bilhões anualmente até 2035. Muito abaixo dos 1,3 trilhões de dólares que o próprio texto reconhece que seria realmente o necessário.
Gostaria de saber se os líderes dos Estados verdadeiramente conseguem dormir tendo tanto sangue nas mãos. Países vão desaparecer, ilhas no Caribe e Oceania já estão nesse processo, doenças irão surgir, tragédias ambientais serão regra, e enquanto a sociedade civil se organiza e faz todo o possível para mitigar essas situações, os Estados continuam sendo mesquinhos e encaminhando nossa morte."
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