O livro de Felipe Cabral retrata os primeiros passos e descobertas de dois meninos gays em uma escola ultraconservadora.
A adolescência, é sem dúvida um dos períodos mais complicados para todo mundo. É o período da nossa vida em que estamos descobrindo quem somos, o que queremos e qual é o nosso lugar no mundo.
E é partindo dessa premissa, que Felipe Cabral inicia seu primeiro romance. Filho de dois pais gays, Romeu precisa lidar com a pressão de ser um adolescente, apaixonado por um amigo, ser arrancado do armário e tentar dar o fatídico primeiro beijo: tudo isso na biblioteca da escola mais conservadora do Rio de Janeiro.
Quando estava prestes a beijar Aquiles, seu melhor amigo, pela primeira vez, Romeu é surpreendido por Guga, que grita ofensas homofóbicas, estragando, assim o momento de ternura entre os dois meninos.
E é aí que começa a ação do livro. Após as ofensas, Romeu acerta Guga em cheio com um soco no rosto. Todos são levados para a diretoria, e o padre que dirige a escola pune Romeu e Aquiles, deixando Guga apenas com uma advertência.
Em paralelo à isso, o pai de Romeu, Valentim, acaba de receber a notícia de que o livro escrito por ele, será censurado na Bienal do Livro por conter uma ilustração de dois meninos se beijando.
E quem está tentando censurá-lo é o Prefeito da cidade, que por acaso, também é o pai de Guga, algoz de Romeu na escola. E então, paira a dúvida: será o acontecido na escola o estopim para a tentativa de censura?
A cada capítulo, o autor nos conta a história de um ponto de vista diferente: Romeu, que tenta lidar com a homofobia que sofreu no âmbito escolar, sem saber como solucionar seus dilemas, e Valentim, que luta judicialmente para conseguir lançar seu livro plenamente, enquanto defende o filho junto à instituição.
É nessa situação caótica que o autor desenvolve uma narrativa bonita e sensível, que expõe realidades, trata de questões sociais sérias e escancara o preconceito e a descriminação que pessoas LGBTQIAP+ ainda sofrem no nosso país.
E falando em pessoas LGBTQIAP+: o livro conta com uma gama de personagens na bandeira: praticamente todas as letras da sigla são prestigiadas na história de Felipe. Entre elas, Kita Star, uma youtuber que compra 15mil exemplares do livro de Valentim para distribuir na Bienal.
O livro fala da aceitação, da descoberta: fala da adolescência assim como inúmeros livros, filmes e séries vem fazendo com jovens heterossexuais há décadas. "O Primeiro Beijo de Romeu" é um farol que pode ajudar inúmeras famílias a acolher seus filhos, filhas e filhes LGBTQIAP+.
Uma curiosidade divertida, é que Felipe "esconde" na história diversos títulos de livros com protagonismo LGBTQIAP+ na história, o que é um prato cheio de referências pra quem conhece estes livros, e uma fonte de novas histórias pra quem não os conhece.
Recentemente, Felipe lançou em formato de e-book, "O Diário de Aquiles", que conta toda a história, porém do outro lado da moeda. Sendo narrada do ponto de vista de Aquiles, esta versão mostra que muitas vezes o acolhimento não vem no âmbito familiar.
O autor, Felipe Cabral, também é o idealizador do perfil Eu Leio LGBT, que fala sobre livros com protagonismo LGBTQIAP+ e tem como premissa a frase "Livros fora do armário!".
O livro é indicado para toda a família, principalmente para quem está na fase da adolescência.
Avaliação: ⭐⭐⭐⭐⭐
Douglas Teixeira é publicitário e apaixonado por livros desde que aprendeu a ler. Além de escrever esta coluna, Douglas também é o Social Media e um dos fundadores da Agência Lume.
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