A obra oferece uma visão detalhada da vida rural em Jacarepaguá, uma área que, na época, ainda mantinha características de sertão.
Publicado originalmente em 1936, o livro “O Sertão Carioca” de Armando Magalhães Corrêa é uma obra fundamental para entender a história e a transformação da região de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro.
Magalhães Corrêa, foi um jornalista e escritor apaixonado pela natureza e pela cultura local, mudou-se com sua família para um sítio em Jacarepaguá no início da década de 1930. Lá, ele escreveu uma série de reportagens que foram publicadas no jornal Correio da Manhã entre 1932 e 1933, e posteriormente compiladas no livro.
“O Sertão Carioca” oferece uma visão detalhada da vida rural em Jacarepaguá, uma área que, na época, ainda mantinha características de sertão, apesar de estar a apenas uma hora do centro urbano do Rio de Janeiro.
Magalhães Corrêa descreve com precisão a paisagem natural, incluindo solos, rios, lagoas, restingas e a flora e fauna remanescentes da Mata Atlântica. Ele também documenta a vida dos moradores locais, suas fazendas, igrejas, represas, pontes, estradas e técnicas de produção.
"'O livro “Sertão Carioca”, de Magalhães Corrêa, é essencial para entender e preservar a história da Baixada de Jacarepaguá. Corrêa documentou detalhadamente a fauna, flora e o modo de vida local, dando identidade à região e destacando sua riqueza natural e cultural. Ele reafirmou a singularidade de Jacarepaguá dentro do Rio de Janeiro, mostrando a coexistência da natureza com a vida urbana. A obra é um resgate das raízes e uma valorização do território, mantendo viva a memória de um Jacarepaguá que, apesar das mudanças, ainda carrega a essência do “sertão” carioca", explica Alexandra Gonzalez, fundadora e gestora da Casa de Cultura de Jacarepaguá.
A obra de Magalhães Corrêa continua sendo relevante nos dias de hoje, não apenas como um documento histórico, mas também como um chamado à ação para a preservação do patrimônio natural e cultural da região. A segunda edição do livro, publicada pela Fundação Biblioteca Nacional, inclui uma introdução de José Augusto Drummond e uma apresentação de Marcus Venicio Ribeiro, que contextualizam a importância da obra no cenário atual.
"O livro “Sertão Carioca”, escrito em 1936 por Magalhães Corrêa, é uma compilação de artigos que destacam a degradação ambiental na Baixada de Jacarepaguá, uma área rural na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Corrêa, um naturalista autodidata, observou e documentou problemas ambientais décadas antes do movimento ambientalista global ganhar força. Para mim, este livro é um marco do ambientalismo, não só no Rio de Janeiro, mas até no Brasil", explica o Geógrafo Val Costa, integrante do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá (IHBAJA)
O legado do livro e onde encontrá-lo
Para Val Costa, o legado dessa obra é iniciar uma discussão que hoje é debatida mundialmente: a preservação dos ecossistemas aquáticos e terrestres da região do Sertão Carioca, que naquela época já sofria um processo preliminar de degradação.
"Magalhães Correia menciona no livro que o óleo usado nos motores das embarcações que circulavam pelo complexo lagunar já contaminava essas águas, além de destacar o problema da retirada de madeira nativa da Mata Atlântica do Maciço da Pedra Branca para a produção de carvão vegetal. Ele já apontava na época que o reflorestamento deveria ser feito com mata nativa, pois o eucalipto, como sabemos hoje, acaba secando o lençol freático. Magalhães também sinalizava a necessidade da criação de áreas preservadas na região. Embora não usasse o termo “unidade de conservação” como usamos hoje, ele já indicava essa necessidade, especialmente no entorno da Laguna de Marapendi", relata.
“O Sertão Carioca” está disponível em diversas livrarias e também pode ser encontrado em bibliotecas públicas, como a Biblioteca Nacional. Para aqueles interessados em explorar mais sobre a história e a cultura de Jacarepaguá, esta obra é uma leitura indispensável.
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