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Tuberculose: Desafios e avanços no combate à doença

Foto do escritor: Fernanda CaléFernanda Calé
Na imagem podemos ver uma mulher tossindo

Veja como ter acesso ao tratamento em Jacarepaguá e conheça os dados sobre a doença em nossa região.

 

No dia 24 de março, celebramos o Dia Internacional de Combate à Tuberculose, uma doença que continua a ser um desafio global. A tuberculose é uma infecção bacteriana que afeta principalmente os pulmões, mas pode atingir outros órgãos. No Rio de Janeiro, a doença é um problema persistente, com incidência significativa em áreas de alta vulnerabilidade social.

 
 
Sintomas e diagnóstico

Os sintomas mais comuns da tuberculose incluem tosse persistente, febre, suor noturno, perda de peso e cansaço. O diagnóstico é feito principalmente por meio da baciloscopia e do teste rápido molecular (TRM-TB) do escarro, além da radiografia de tórax. Em casos suspeitos, é essencial procurar atendimento médico para avaliação e tratamento adequados.


Tratamento e avanços

O tratamento da tuberculose é feito com antibióticos, geralmente por seis meses, e é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Recentemente, avanços significativos no tratamento da tuberculose resistente, com a introdução de novos medicamentos como a Pretomanida, possibilitaram a redução do tempo de tratamento que chegava a 18 meses para 6 meses.


Valeria Cavalcanti Rolla, médica infectologista e chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Micobacterioses  do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas - Fiocruz, destaca que "a tuberculose é uma doença que continua a desafiar os médicos. Com a epidemia de HIV, houve um grande avanço no desenvolvimento de novos medicamentos e testes diagnósticos que beneficiaram a tuberculose. Hoje, temos tratamentos mais eficazes e menos tóxicos para tuberculose resistente, como o esquema BPaL, que inclui a Pretomanida".


Serviços públicos e benefícios

O tratamento da tuberculose exige estratégias que envolvem diferentes órgãos governamentais, como o Ministério da Saúde, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS) e a Secretaria de Estado de Saúde (SES). A união dessas esferas governamentais garante que os pacientes possam ter acesso adequado e igualitário ao tratamento, independente da região onde vivem.


A Secretaria Municipal de Saúde informou que tem investido na capacitação das equipes de saúde da família para melhorar a detecção e o manejo da tuberculose. Além disso, a Secretaria de Estado de Saúde oferece um cartão alimentação para pacientes em tratamento, visando melhorar a adesão ao tratamento, capacitação para equipes de saúde, além de atuar junto com o Governo Federal e a Prefeitura do Rio para ajudar na disponibilização de insumos e na conscientização sobre a doença.


Para ter acesso ao Cartão Alimentação o paciente precisa ser cadastrado no sistema SINAN pelos profissionais da unidade de saúde onde está realizando o tratamento. Marneili Martins, gerente de Área Tuberculose da SES, explica como é feito esse processo: "Uma vez que o usuário chega numa unidade com suspeita de tuberculose, a equipe vai fechar esse diagnóstico e uma vez diagnosticado com a certeza de início de tratamento, ele é notificado no Sistema de Informação Nacional que é o SINAN.


E uma vez que ele está cadastrado no SINAN, notificado no SINAN, ele é cadastrado no Sistema de Auxílio Alimentação (Sisa). (...) Então ele chega na unidade para fazer o tratamento, então ele recebe esse cartão mensalmente, ele é recarregado com um valor de R$250, que inclusive esse cartão não pode ser usado para bebida alcoólica, mas é para alimentação, especificamente para alimentação. Nós temos certeza que é um dos fatores uma grande estratégia para adesão do tratamento, inclusive na melhora nutricional destes doentes.”


Fatores de risco e prevenção

A tuberculose é mais comum em áreas com alta densidade populacional e falta de ventilação. A prevenção inclui a vacinação com a vacina BCG aplicada em crianças ao nascer, e o tratamento preventivo de contatos de casos confirmados. Ambientes bem ventilados e com luz solar direta ajudam a reduzir o risco de transmissão.


Renato Cony, subsecretário de Promoção, Atenção Primária e Vigilância em Saúde, enfatiza que "a região do Anil e do Rio das Pedras, assim como os outros grandes complexos de favelas no município do Rio de Janeiro, são áreas de grande preocupação em relação à tuberculose da Secretaria. Nesses locais, onde os determinantes sociais de saúde mais aparecem, mais se destacam, e é por isso que as nossas ações precisam ser muito fortes na saúde, mas integradas com os outros serviços e outros sistemas da prefeitura.”


As clínicas da família das regiões de Rio das Pedras e Anil ( CF Bárbara Mosley, CF Helena Besserman Vianna e CF Otto Alves de Carvalho) e também as demais unidades básicas municipais de saúde da cidade oferecem serviços de diagnóstico, tratamento e acopanhamento para o caso índice e toda a sua família.


Dados Epidemiológicos

Em 2023 foram registrados no Estado do Rio de Janeiro 18 mil casos de tuberculose. 


Já a cidade do Rio de Janeiro registrou em 2024,  9.387 casos notificados de tuberculose, com 1.017 notificações na região de Jacarepaguá e Barra. Em 2025, a região de Jacarepaguá e Barra já contabiliza 55 notificações


Para mais informações sobre a tuberculose e os dados epidemiológicos de outras regiões, visite o site do EpiRio: https://epirio.svs.rio.br/.

 
 
A Tuberculose no Brasil e em Jacarepaguá

A tuberculose foi uma doença que fomentou mudanças importantes em Jacarepaguá, como a construção de complexos hospitalares que tinham como objetivo tratar a doença. Esse foi o caso do Conjunto Sanatorial da Curicica, ou Raphael de Paula Souza, como é conhecido hoje. 


Janis Cassília, mestre em História das Ciências e da Saúde, além de integrante do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá (IHBAJA), explica que o Conjunto Sanatorial foi o mais importante Sanatório do Governo Federal durante a maior parte da década de 1950.


“Ele foi construído dentro da proposta da Campanha Nacional de Tuberculose iniciada em 1946 e que tinha como objetivo a erradicação da tuberculose em até 10 anos no Brasil. Ao longo da década de 1940, vários sanatórios foram construídos no Brasil, promovidos e financiados pelo governo federal em parceria com estados e municípios. Em Jacarepaguá, vamos ter outros dois hospitais para internação de tuberculosos, que são o Hospital Santa Maria inaugurado em 1943 e o Hospital Cardoso Fontes inaugurado em 1945, todos federais à época.”



Segundo a pesquisadora, a tuberculose foi vista desde o século XIX de forma romântica, difundida entre artistas e poetas, em especial do movimento do romantismo. Entretanto a visão foi se modificando e no início do século XX, passou a ser associada a miséria, a aglomeração urbana e a comportamentos considerados desregrados como péssimas condições de higiene, moradia e alimentação.


“Ela passou a ser vista como um “mal social”, que assim como outras doenças, no contexto das reformas urbanas no Rio de Janeiro do início do século XX deveriam ser combatidas. A cidade já havia passado por inúmeras epidemias de tuberculose, tanto que esta doença era considerada uma das três principais causas de óbito na cidade.” - Completa Janis.


Além da mudança da visão romântica para uma visão que gera estigmatização das pessoas acometidas pela tuberculose, com o passar dos anos as formas de tratar a doença também foram se modificando devido a avanços científicos. 


Abordagens como o isolamento em regiões de clima ameno e ar limpo, que faziam com que muitos pacientes mais abastados buscassem tratamentos em cidades como Nova Friburgo e São José dos Campos, foram substituídas após a descoberta da Estreptomicina em 1943.


O antibiótico, com eficácia no tratamento e cura da doença, e a invenção da vacina BCG como forma preventiva para infecções da doença em crianças fizeram com que o isolamento de pacientes fosse encerrado, dando início aos tratamentos domiciliares. 


“Com o desenrolar da década de 1940, pesquisas desenvolvidas usando outras drogas e

substâncias químicas mostram resultados eficazes no tratamento e cura da doença. No Brasil, a chegada da Estreptomicina e de outras drogas, na década de 1960, no sistema público de saúde permitiu o fim do isolamento e o início dos tratamentos domiciliares. Esse fator encontrou ajuda junto às críticas do meio médico do período: os longos internamentos, ao contrário de serem preventivos a novas infecções, eram na verdade fatores de disseminação da tuberculose, o alto custo de manutenção de hospitaissanatórios e dispensários.” - Explica Janis.





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